“Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo [...]” Hb 11.4
A vida em comunidade é um enorme desafio; são pessoas diferentes, com visões e percepções diversas, unidos por um elemento em comum, no nosso caso, a fé. Pressupõe-se que a Igreja seja um ambiente de construção de relacionamentos sadios, abençoadores e fundamentados em Deus. Mas na verdade, como bem sabemos, nem sempre é assim. A narrativa acerca de Abel e Caim ilustra de maneira primorosa como nossa convivência com outras pessoas pode ser conturbada e traumática. Eram irmãos, orientados a desenvolverem uma espiritualidade viva, todavia, foi exatamente no espaço religioso que o conflito tomou corpo: inveja, insegurança, rancor e raiva encheram o coração de um dos irmãos, enquanto o outro experimentava gratidão, acolhimento, aceitação e paz.
A adoração a Deus conduz-nos a uma vida de maior intimidade com o Senhor. Mas, neste percurso, muitas vezes nos deparamos com um perigoso obstáculo, nosso coração mau e teimoso.
“Inveja”, esta parece ser uma das
palavras-chave de nossa lição hoje. Lembremos: não existe “inveja
positiva”, a raiz de tal sentimento sempre é a vontade de destruição do outro.
Leitura Bíblica: Gênesis 4.1-8
INTRODUÇÃO
Na aula de hoje, vamos analisar um dos mais
trágicos textos da Bíblia Sagrada: o fratricídio de Abel por Caim. Dentre as
várias maneiras de se estudar este denso relato bíblico, o elemento do culto
não pode ser desconsiderado em nenhuma delas. O fio condutor que interliga toda
história de Abel e Caim é a adoração. Como compreender que o contexto da
adoração a Deus pode fazer tanto bem a alguns e deixar outros tão mal? É sobre
isso que pensaremos hoje.
1. A vida além do jardim de Deus.
Os
primeiros versículos do quarto capítulo do Gênesis concentram-se na
apresentação das histórias de Caim, em hebraico eth — “com ajuda de...” e Abel, hébel, que significa “vaidade”, “efêmero”. Apesar das dores
prometidas, da maldição sobre a terra e do esforço redobrado para a
subsistência (Gn 3.16-19), Deus não havia abandonado seus filhos como bem
reconhece Eva, pois era “com ajuda do Senhor” que a vida continuava após a
Queda.
Conta-nos o texto que Caim foi lavrador, enquanto Abel pastor de
ovelhas. As diferenças entre os filhos de Eva não se limitavam apenas a suas
profissões; ambos eram muito diferentes quanto ao caráter (1Jo 3.12).
2. A adoração presente após a Queda.
De
maneira absolutamente sucinta a Bíblia relata o acontecimento em Gênesis 4.3-5.
Esta é uma típica cena do Antigo Testamento: no fim de um ciclo produtivo, as
pessoas desejavam agradecer a Deus pelo bom resultado de seus trabalhos, e
apresentavam-se diante do Altíssimo para oferecerem-lhe sacrifícios. Abel,
criador de animais, traz o melhor de suas ovelhas. Caim, agricultor, oferece o
fruto dos seus campos. Tudo ficaria dentro da normalidade se o escritor do
Gênesis não destacasse a intrigante nota: “[...] e atentou o SENHOR para Abel e
para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou [...]”
(v.4,5). Aqui está um detalhe relevante para nossas discussões a respeito do
louvor e adoração que levanta vários questionamentos: Deus não recebe todo tipo
de adoração? Como devo louvar para que minha adoração seja aceita? Neste caso a
rejeição e a aprovação estão relacionadas aos elementos ofertados ou à vida das
pessoas que ofertam?
3. A oferta que revela os corações.
Há
várias hipóteses que procuram explicar a relação “aceitação — Abel x rejeição —
Caim” neste texto. Abel apresentou suas primícias, enquanto Caim trouxe uma
parte qualquer de sua produção. O problema se concentraria na importância que
cada um deu àquilo que ofertou, o que revelaria o quanto o ato de ofertar seria
significativo ou não. Seguindo outra análise, Abel já era um homem justo (Hb
11.4), Caim já era uma pessoa “do maligno” e de más obras (Jd 11), a
aceitação-rejeição dos sacrifícios é uma imagem de louvor e denúncia dos
comportamentos de ambos. Associar estes acontecimentos exclusivamente à
natureza dos elementos ofertados — gordura e sangue de um lado, vegetais do
outro — é muito precipitado. Nem a melhor oferta trazida por alguém consegue
esconder seu coração diante de Deus.
Leia também: Caim era do maligno
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1. Caim não aceitou a verdade.
O texto
não deixa claro de que modo Caim percebeu a rejeição de Deus para sua oferta.
Se foi uma conversa pessoal ou um sinal que repercutiu em seu trabalho no
campo, isso não nos é revelado. O fato é que diante da terrível constatação: “O
Senhor não recebeu minha adoração!”, Caim agravou a situação — irou-se, expôs
publicamente sua revolta, mas em momento algum procurou a Deus. Quando estamos
diante de Deus, não há máscaras, personagens, mentiras, revelamo-nos em nossa
inteireza. Caim não gostou do que viu. Diante da bondade de Deus, o coração mau
do filho de Adão veio à tona, e isto entristeceu-lhe. O que Caim deveria ter
feito? Deveria ter se humilhando e pedido ajuda do Pai.
2. A adoração como momento de cura e
restauração.
Quantas pessoas têm o privilégio de serem tão abertamente
esclarecidas pela palavra divina como Caim? O ato de Deus para com o filho de
Eva não era punição, mas orientação. Tanto que o Senhor preocupa-se em
esclarecê-lo e conscientizá-lo sobre os riscos que ele corria se não mudasse de
postura (v.6,7). Reconhecer nossos erros não é nada fácil, é custoso, muitas
vezes doloroso, mas como nos demonstra o caso de Caim, absolutamente
necessário. Por não escutar a voz do Senhor, as consequências para Caim foram
desastrosas (v.11,12). Caim não estava “predestinado” a matar Abel, pois o
Senhor declarou-lhe o caminho de restauração. É diante de Deus, em adoração,
que curamos nossas feridas e recebemos alento e ajuda do céu (2Co 12.7-10).
3. O que acontece quando não levamos a
adoração a sério.
Caim não escutou as advertências de Deus. Isto parece
ser mais uma prova de seu caráter duvidoso, de sua adoração mecânica e
ritualística, que tinha como fim cumprir uma obrigação e não apresentar gratidão.
A revelação do Senhor para Caim foi sem arrodeios (v.7). Ele, todavia, não
temeu ao Senhor e covardemente assassinou seu irmão. Se continuarmos a leitura
do texto, perceberemos que, cinicamente, Caim nega o fratricídio, e demonstra
absoluta frieza ao declarar que nada tem a ver com seu irmão e que não é seu
“guardador”. Quando não consideramos o louvor como algo digno de honra entre
nós, nosso coração enche-se de terrível maldade (Is 46.12; Ez 2.1-5). Talvez o
pior de tudo isso é quando a maldade extrapola nossos corações e fere quem está
perto nós.
“‘E irou-se Caim fortemente’ (4.5). A ira de Caim mostra quão decidido ele estava em agir por conta própria, sem se submeter a Deus. A ira é uma emoção destruidora. Nunca poderemos nos desculpar por ter ofendido alguém dizendo: ‘Tenho um temperamento agressivo’. Precisamos considerar a ira como pecado e conscientemente nos submeter à vontade de Deus” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.28).
III. DEUS NÃO FICA INERTE DIANTE DA INJUSTIÇA
1. A dor do justo (v.8).
Esse é o
primeiro registro nas Sagradas Escrituras da complexa questão: Por que sofre o
justo? Esta indagação percorrerá toda a Bíblia, em inúmeros episódios. Como
entender que a malignidade de Caim teve poder para realizar tão brutal ato?
Mais ainda, como explicar a morte daquele que agradava ao Pai, sem que este
interviesse na história? Estas são questões intrincadas com as quais somos
desafiados a tratar diariamente, em nossas cidades, igrejas e famílias. Diante
das múltiplas variáveis para responder os porquês, ao menos uma verdade emerge:
Deus não fica inerte diante da injustiça. Os “Cains” nunca ficarão impunes!
(v.11-16) Quanto aos “Abéis”, nenhuma morte pode enterrar suas bondades e atos
de justiça os quais brilharão e servirão de inspiração às novas gerações.
Talvez, “Porque o justo sofre?” seja uma pergunta demasiadamente complexa para
respondermos, consolemo-nos com uma certeza: o justo nunca será desamparado,
nem sua família (Sl 37.25).
2. Conflitos e dores nos espaços de adoração.
Nem
sempre teremos no ambiente de adoração somente pessoas como Abel, desejosas de
oferecer a Deus suas vidas e dons. Entretanto, como Abel, devemos focar nossa
vida e adoração para o serviço a Deus. E devemos nos lembrar de que o Senhor
conhece aqueles que realmente estão adorando no culto. O amor de Deus é capaz
de nos direcionar nos momentos de adoração dentro e fora da congregação. E os
que são maus, como Caim, não terão guarida onde os santos vivem (Sl 1.5).
3. Quem feriu quem?
Uma última verdade
que necessitamos explicitar, acerca de Abel e de sua morte pelas mãos de Caim é
a seguinte: Deus não foi o responsável pelo que aconteceu! Há pessoas que,
quando sofrem, reputam seu sofrimento a Deus. Ocorre que em um mesmo lugar de
adoração podemos ter pessoas com o sentimento de Abel e o sentimento de Caim,
mas isso não deve ser motivo para desistir da vida em comunidade. Por isso, não
há motivos para abandonar sua comunhão com o Pai. O Senhor nos ama
infinitamente (Ef 3.18,19). Se pessoas te decepcionaram, Deus nunca nos desapontará
(Sl 94.14).
O reconhecimento de relações conflituosas é
um passo importante para a construção de um ambiente de cura e restauração.
Partindo do olhar
construído durante toda esta lição, podemos afirmar que há dois tipos de
pessoas que se apresentam diante do Pai em adoração: Aquelas que reconhecem a
soberania dEle, e por isso são capazes de darem o melhor de si; e as outras que
não podem dar a Deus o melhor de si porque estão envoltos em maldade e inveja.
Para estes há punição, para aqueles Deus destina amor, paz e redenção.
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Romanos 12:1
Fonte:
Revista Lições Bíblicas Jovens 4º Trim/2016 - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - CPAD
Bíblia de Estudo Pentecostal
Sugestão leitura:
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Romanos 12:1
Fonte:
Revista Lições Bíblicas Jovens 4º Trim/2016 - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - CPAD
Bíblia de Estudo Pentecostal
Sugestão leitura:
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