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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O milagre da multiplicação

“E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos, pelos que estavam assentados; e igualmente também os peixes, quanto eles queriam” Jo 6.11

“Jesus... vendo que uma grande multidão vinha ter com Ele (v.5)
Os discípulos também viram a multidão, mas não com a mesma visão do Mestre. Alguns enumeram as multidões como se enumera gado, tantas cabeças. Outros, em termos de trabalho, contam as mãos. Ainda outros, o tamanho da multidão indica o grau de popularidade. Mas Jesus vê a necessidade, o anelo da alma, os sofrimentos da multidão. Aquele que percebeu a fome de Nicodemos, que sentiu a sede da mulher samaritana, que compartilhou da miséria do paralítico em Betesda, que compreendeu o anelo de Zaqueu? Ele teve a verdadeira visão da multidão com Ele no deserto. Spurgeon teve a mesma visão quando chorou perante os trinta mil que se congregaram para ouvi-lo pregar no Great Crystal Palace. A ternura infinita de Jesus O constrangeu a alimentar a multidão. No Seu ministério compadecia-se tanto do estado físico do povo como do espiritual. Esforçava-se para ministrar tanto ao corpo como à alma dos homens.
A multidão achava o pão espiritual tão bom que se esquecera de comer.
Compare cap. 4.31-34.
Ele bem sabia o que havia de fazer (v.6): Nos problemas e dificuldades não sabemos avançar; mas Ele bem sabe, nunca está perplexo para nos dirigir” (BOYER, Orlando. Espada Cortante. Lucas, João e Atos. Volume 2. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2007, p.265).

O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes evidencia o compromisso do Evangelho em alcançar o ser humano de forma completa.

Texto Bíblico - João 6.1-15

INTRODUÇÃO

A continuidade do capítulo cinco do quarto Evangelho revela que os judeus passaram a perseguir Jesus e queriam matá-lo, pois Ele realizava prodígios no sábado. O Mestre ia ainda mais longe, pois justificava sua postura dizendo que o Criador ainda estava em atividade de trabalho e que Ele, justamente por isso, também trabalhava. Tal pronunciamento enchia os judeus ainda mais de ira, pois Jesus “não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.16-18). Dessa maneira Jesus consolida seu ministério como Messias enquanto João, por sua vez, vai evidenciando a messianidade do Senhor. Dos versículos 19 a 47 o Mestre faz um de seus discursos, intercalando sinais e palavra, como é característico do estilo do Evangelho joanino. Na sequência, Jesus realiza o grande milagre da lição que será estudada hoje.

I. O CENÁRIO E AS CIRCUNSTÂNCIAS DA NARRATIVA

1. Jesus volta à Galileia.
Como já foi mencionado, Jesus desenvolve o seu ministério entre a Judeia e a Galileia. Assim, depois de curar o paralítico no Tanque de Betesda, reencontrá-lo no Templo em Jerusalém, confrontar os religiosos com a questão do sábado e de pronunciar seu discurso (Jo 5.1-47), o Mestre dirige-se novamente à Galileia, especificamente, diz João, “para o outro lado do mar da Galileia, que é o de Tiberíades” (Jo 6.1).

2. A multidão e os sinais.
João observa que uma grande multidão seguia o Senhor, pois via os sinais que Ele realizava (v.2). A observação é oportuna, pois evidencia que a multidão continua ávida pelo extraordinário, não tendo ainda maturidade para desenvolver uma fé solidificada na Palavra do Evangelho anunciado por Jesus Cristo, conforme pode ser visto logo mais no próprio capítulo seis do texto joanino (Jo 6.22-26). Na verdade, conforme o Senhor deixa claro, até mesmo os sinais são desprezados diante de outras necessidades priorizadas pelo povo.

3. A época e o “local”.
Jesus e os seus discípulos, os doze, sobem a um “monte” não especificado (v.3). João acrescenta um detalhe que também aparece no versículo 13 do capítulo 2, demarcando um período de aproximadamente um ano, pois ele diz que se aproximava mais uma Páscoa (v.4). Têm-se então a passagem do primeiro ano do ministério terreno do Senhor.

Mesmo tendo necessidades, é preciso desenvolver uma fé madura e fundamentada no Evangelho e não na resolução dos nossos problemas.

II. JESUS E O SEU COMPROMISSO COM AS PESSOAS

1. A solidariedade de Jesus.
Ao contemplar a multidão, Jesus demonstra preocupação e comprometimento (v.5). Sua pergunta a Filipe — “Onde compraremos pão, para estes comerem?” — deixa isso muito claro. Na realidade, como João revela, o Mestre experimentava Filipe, ou seja, testava o seu discípulo com o objetivo de ver sua reação, pois o Senhor sabia perfeitamente como deveria proceder (v.6). O discípulo, visivelmente abismado, responde ao Mestre que duzentos dinheiros não seriam suficientes para que cada um pudesse comer um pedaço de pão (v.7).

O “dinheiro” ou denário era uma moeda romana de prata, sendo mais ou menos a média do salário de um dia de trabalho de um operário. Por isso, a sugestão de Filipe mostra-se “lógica”, pois deixa transparecer que eles não têm tal dinheiro e nem condição de alimentar tanta gente. À parte disso, é interessante pensar no fato de que mesmo Jesus, sabendo das reais intenções da multidão (Jo 6.22-26), ainda assim não deixou de ser solidário, cordato e educado, atendendo as pessoas em suas necessidades.

2. A fé do rapaz.
O que acontece na sequência demonstra que o problema havia extrapolado o círculo dos discípulos e chegado ao povo, pois um rapaz anônimo avisa André, irmão de Simão Pedro, ao Senhor Jesus, oferecera seu lanche — “cinco pães de cevada e dois peixinhos” — para que pudesse ser repartido pela multidão (vv.8,9). A pergunta retórica de André deixa explícita sua completa descrença em relação ao gesto do rapaz: “mas o que é isso para tantos?”. Tal atitude, porém, revela que o rapaz tinha mais fé que os discípulos, pois ofereceu seu lanche por saber que aquela pequena quantidade de alimento, nas mãos de Jesus, certamente poderia ser transformada em muito.

3. A organização da multidão.
Uma vez que havia muita relva no local, isto é, planta rasteira apropriada para descanso, o Mestre então orienta os seus discípulos para que organizem a multidão, mandando que o povo se assente (v.10). Neste momento o texto joanino informa que o número de homens era de quase cinco mil. É importante dizer que tal contagem não considerava mulheres e crianças (Mt 14.21), portanto, a quantidade de pessoas alimentadas, provavelmente, deve ter sido bem superior a cinco mil. Certamente por isso André desprezou o gesto do anônimo que ofereceu seu lanche. Deus, todavia, não age de acordo com a lógica humana (1Co 1.25).

A lógica humana é diametralmente oposta à divina, por isso, quem serve a Deus não pode orientar-se exclusivamente pelo entendimento humano.

III. O MILAGRE EVIDENCIA A COMPLETUDE DO EVANGELHO

1. O milagre e sua relação com o Reino de Deus.
O Mestre toma os cinco pães e os dois peixinhos do moço anônimo e dá graças; a seguir passa aos discípulos, e estes ao povo que anteriormente fora organizado. O texto diz que o alimento era dado “quanto eles queriam” (v.11), ou seja, não era regulado, mas distribuído em abundância e com fartura. Tal ação, demonstra a grandeza do milagre, pois os pães eram poucos e os peixes estão no diminutivo, “peixinhos”, mas estes nas mãos de Jesus foram suficientes. O milagre também aponta para a completude do Evangelho, pois era anunciado pelo Senhor a todos, mas primordialmente aos pobres, pois estes não tinham esperança e muito menos condições de subsistência. No entanto, o Senhor era sensível às necessidades dos menos favorecidos, sinalizando o compromisso do Reino de Deus (Mt 11.5; 25.35; Tg 2.14-17).

2. A saciedade e o cuidado com o desperdício.
Depois de saciada a multidão, o Senhor orientou os discípulos a que recolhessem o que sobrou para que nada se perdesse (v.12). A sobra foi tão grande que os discípulos “encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido” (v.13). Tal ação demonstra o cuidado do Mestre com o desperdício, pois se antes não havia o que comer, agora já tinha até mesmo de sobra. Isso, porém, não justificava o desperdício.

3. A discrição e a consciência de Jesus a respeito de sua missão.
Com a realização do milagre, e devido sua especificidade, a multidão concluiu que Jesus era “verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo” (v.14). Contudo, o Mestre sabia que tal pensamento não se dava por uma motivação correta, mas sim por um interesse político. E era justamente por saber disso, isto é, que “haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei”, que Ele “tornou a retirar-se, [...] só, para o monte” (v.15). Jesus tinha uma missão e sua consciência acerca desse fato levou-o a não se empolgar com o pensamento da sociedade a seu respeito, daí o porquê de Ele retirar-se (Jo 6.38).

A consciência da missão faz com que não nos desviemos do alvo estabelecido por Deus.

CONCLUSÃO

O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes evidencia a completude do Evangelho e sua relação com o Reino de Deus que, apesar de não ser “comida nem bebida; mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17), deve contemplar o ser humano em sua totalidade. O Mestre demonstrou isso com sua preocupação em deixar a multidão com fome. Ele não se preocupava apenas com as almas das pessoas, mas as via de forma global e completa. Da mesma forma, Tiago instrui que não podemos, tendo condições, ver o nosso irmão padecendo necessidades, dizer para ele ir em “paz”, pois “a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.15-17).

"e Jesus tomou os pães e, havendo dado graças,..." João 6:11

SUBSÍDIO
“Repartiu-os pelos discípulos (v.11).
Lembremo-nos de que foi somente quando o menino entregou seus pães a Jesus que eles foram multiplicados para alimentar toda a multidão. É somente quando entregamos a Jesus o pouco que temos que Ele pode multiplicá-lo. Foi só quando a pobre viúva de Zarefate cedeu ao pedido estranho de Elias, Faze disso primeiro para mim um bolo, que o punhado de farinha e o pouco de azeite se tornaram provisão inesgotável para ela, 1Rs 17.13.

Foi nas mãos de Cristo que os pães se multiplicavam. Os discípulos não podiam multiplicar a comida, mas tinham de voltar constantemente a Ele para receber mais para distribuir. Tudo é uma figura do que nos acontece: não podemos, nem com os maiores esforços e com estudos esmerados, alimentarmos as multidões sem recorrermos, constantemente, a Jesus.(BOYER, Orlando. Espada Cortante. Lucas, João e Atos. Volume 2. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2007, p.266).

Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 3º Trimestre de 2018 - Título: Milagres de Jesus — A fé realizando o impossível - César Moisés Carvalho

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