“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” Rm 3.23
A pecaminosidade humana e sua restauração a Deus
O problema do pecado
Um “senhor” que domina a vida de uma pessoa. É
assim que a Bíblia nos apresenta o pecado (Rm 6.12-14). Ele não pode ser
vencido apenas pela atitude humana.
A questão não é o que o ser humano pode fazer
para se livrar do pecado, mas o que foi feito para que o pecado fosse removido
do ser humano. Ora, se não houver a experiência de conhecer a Cristo mediante a
fé pela graça de Deus (Ef 2.8), o ser humano continuará escravo do “senhorio”
do Pecado. Logo, esse poder só é quebrado, e essa opressão só é desfeita,
quando a salvação pela graça for operada na vida do pecador.
O pecado é algo sério e grave. Infelizmente,
muitos não têm a real dimensão desse problema. Quando se diz que o ser humano
não pode fazer nada em relação a sua situação de pecado, o que está se
afirmando é que não resta mais esperança nenhuma para a situação dessa pessoa.
Por isso, o tema é incômodo. Ele revela a consciência dos erros que muitos tendem
a esconder, pois sem a graça de Deus eles não têm a possibilidade de
enfrentá-los. O pecado incomoda porque não há como fugir dele, não tem como
escapar. Por isso, só a salvação operada pela graça de Deus é capaz de nos
constranger a tomarmos o caminho da humildade, reconhecendo os nossos erros,
confessando com os lábios: “sou um pecador”. A coragem para enfrentar isso e a
tristeza que tal afirmação acarreta à alma humana só pode acontecer pela ação
de convencimento do Espírito Santo. É a graça de Deus se revelando ao coração
humano, pois depois de um momento desassombro, dor, vergonha e confissão, um
alívio como nunca dantes experimentado passa a raiar na alma. É a graça de Deus
que chegou e atingiu o coração humano.
Amando o pecador
Como Igreja do Senhor, jamais o nosso papel
pode ser o de lançar em rosto os pecados alheios. A Palavra de Deus afirma que
dos nossos pecados o Senhor não lembrará mais: “jamais me lembrarei de seus
pecados e de suas iniquidades” (Hb 10.17). Ora, onde há remissão de pecados,
tudo está feito (Hb 10.18; cf. Jo 19.30). O nosso trabalho agora é o de acolher
as pessoas que se arrependeram de seus muitos pecados. Sem humilhar ninguém, o
nosso caminho é o de demonstrar o amor de Deus como Jesus fez em seu ministério
terreno (Lc 4.18,19). Essa é uma ótima oportunidade de fazer uma reflexão com a
classe à luz do assunto apresentado na lição e a maturidade dos salvos em
Cristo em lidar com a questão do acolhimento do pecador. Revista Ensinador Cristão nº71
Reconhecemos a pecaminosidade de todos os seres humanos, que os destituiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo podem restaurá-los a Deus.
Leitura Bíblica: Romanos 5.12-21
No livro de Gênesis encontramos um dos relatos
mais tristes da história da humanidade, a Queda. Mas, Deus não foi pego de
surpresa com o pecado de Adão e Eva, pois as Escrituras Sagradas afirmam que
desde a fundação do mundo a morte redentora de Jesus, pela salvação da
humanidade, já havia sido determinada (Ap 13.8). O homem pecou de modo
deliberado contra Deus, mas o Criador não o deixou entregue a sua própria
sorte. O Senhor providenciou a sua redenção.
Vivemos em uma sociedade relativista, onde
muitos não acreditam mais que haja certo e errado. O erro, o pecado, segundo os
relativistas, vai depender do ponto de vista de cada um. Mas, cremos na Verdade
absoluta e que a única solução para o pecado está na fé no sacrifício de Jesus
Cristo.
A Doutrina do Pecado é conhecida nos tratados
de teologia como Hamartiologia, da palavra grega hamartia. O estudo se
reveste de suma importância porque se trata do problema básico de todos os
seres humanos. Todos os conflitos no mundo e as confusões existentes na
humanidade são manifestações do pecado. Ninguém pode se livrar dele, mas o
Senhor Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores da condenação eterna. O
enfoque da presente lição é definir e explicar o pecado, bem como apresentar o
meio divino para a solução humana.
Harmatologia: é uma palavra usada no campo
teológico para designar ‘a doutrina do pecado’, incluindo seus aspectos
sombrios e sua natureza destruidora, tanto aplicada no campo físico como no
campo espiritual, mostrando em cada detalhe suas disposições hostis contra
Deus, os seres e qualquer entidade no mundo da existência. Em sentido
etimológico — a palavra ‘pecado’ conforme se encontra em nossas versões, vem da
palavra hebraica ‘hatta’th’, do qual origina-se a raiz hebraica ‘hata’ traduzido
na Septuaginta da palavra ‘hamartia’. Existem algumas palavras que relatam
significados semelhantes à palavra hebraica hatta’th’, como também a
palavra grega ‘hamartia’. Estes termos são aplicados no tempo e no espaço para
descrever e dar sentido a tudo aquilo que o pecado é e suas formas de
expressão. Os eruditos teológicos usam várias palavras deste gênero para
descrever a natureza sombria do pecado, mostrando seus aspectos e suas
disposições torcidas, maléficas em sua natureza daninha e perniciosa” (PEDRO,
Severino. A Doutrina do Pecado. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2012, pp.13,14).
Os termos hebraicos awon e peshá. Há
na Bíblia um repertório amplo que revela o pecado nos seus vários aspectos, mas
este espaço não nos permite uma apresentação exaustiva. O termo hebraico avon,
“iniquidade, perversão”, vem de uma raiz que significa “entortar, torcer”, daí
a ideia de perverter a lei de Deus. Essa palavra aparece traduzida em nossas
versões como “injustiça” (Gn 15.16), “maldade” (Êx 20.5) e “iniquidade” (Lv
26.40). Já o verbo avah, de mesma raiz, descreve a natureza do coração da
pessoa não regenerada (Jó 15.5). Isso revela a “vida torta” do pecador. O outro
termo de importância na Hamartiologia do Antigo Testamento é o verbo pashá “transgredir”
ou o substantivo peshá, “transgressão, delito” (Gn 31.36; 50.17). O ser
humano forçou e foi além dos limites que Deus estabeleceu, e isso faz toda a
humanidade, homens e mulheres, errar o alvo da vida.
Pecado: “Do hebraico hattah; do grego hamartios;
do latim peccatum. Transgressão deliberada e consciente das leis
estabelecidas por Deus. Errar o alvo estabelecido pelo Criador ao homem: O
pecado mortal é a deliberação consciente e intencional de se resistir a vontade
de Deus. Não se trata de um simples pecado ou de uma transgressão ordinária; é
uma rebeldia movida pelo orgulho e pelo não reconhecimento da soberania
divina”. Dicionário Teológico, CPAD, pp.235,236.
Há uma lista extensa de palavras na Bíblia para designar o pecado: erro, iniquidade, transgressão, maldade, impiedade, engano, sedução, rebelião, violência, perversão, orgulho, malícia, concupiscência, prostituição, injustiça etc., além dos verbos e adjetivos cognatos.
Muitos desses termos, e outros similares, estão na sombria lista apresentada pelo apóstolo Paulo (Rm 1.29-32; Gl 5.19-21).
COMO A BÍBLIA DESCREVE O PECADO
O pecado é descrito de diversas maneiras e
existem dezenas de termos hebraicos e gregos na Bíblia para descrever suas
causas, às vezes, sua natureza e até mesmo suas consequências. Os termos mais
comuns para o pecado são o hebraico hāttā’â e o seu equivalente grego na
Septuaginta e no Novo Testamento, hamartia. O verbo hātā’ significa
literalmente “errar o alvo” (Jz 20.16; Pv 19.2). Essa palavra é usada também no
campo secular na quebra de uma lei civil (Gn 41.9; Ec 10.4), mas seu uso comum
diz respeito ao pecado contra Deus (Sl 103.10; Dn 9.16). O ser humano erra o
alvo e desvia-se do objetivo da vida estabelecido pelo Criador por causa de uma
disposição inata que há em todas as criaturas humanas.
O pecado é a transgressão da lei de Deus:
“porque o pecado é a transgressão da lei” (1 Jo 3.4 – ARA). O substantivo
“transgressão” ou o verbo “transgredir” é de uso comum desde o Antigo
Testamento. O verbo hebraico ‘avār, literalmente “atravessar, passar”, não tem
conotação moral: “E passou Abrão por aquela terra” (Gn 12.6). Mas é comum o seu
uso no sentido de ir além de um limite estabelecido e é isso o que significa
“transgredir um mandamento” ou “traspassar o mandado do SENHOR” (Nm 22.18; 24.13);
“seus moradores, porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos e quebram a
aliança eterna” (Is 24.5); “eles traspassaram o concerto, como Adão” (Os 6.7);
“porque traspassaram o meu concerto e se rebelaram contra a minha lei” (Os
8.1). A Septuaginta traduz ‘avār em todas essas passagens pelo verbo grego
parabaino, “transgredir, desviar-se”. O substantivo é parábasis, “transgressão,
violação de uma lei”. É nesse sentido que esses termos aparecem no Novo
Testamento: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos?
Pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes:
Por que transgredis vós também o mandamento de Deus pela vossa tradição?” (Mt
15.2, 3). Foi exatamente esse o pecado de Adão: o primeiro casal foi além do
limite que Deus estabeleceu, não comer do fruto proibido (Gn 2.17). O profeta
Oseias chama essa atitude de Adão e Eva de transgressão (Os 6.7). O apóstolo
Paulo emprega o substantivo parábasis para identificar o pecado de Adão e Eva:
“até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão” (Rm
5.14); E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão” (1 Tm 2.14).
O termo grego para “transgressão” em 1 João 3.4
é anomía, que literalmente quer dizer “falta de lei, quebra da lei”; o ánomos é
alguém para o qual não existe uma lei. A versão Almeida Atualizada e a Tradução
Brasileira traduzem essa palavra por “iniquidade”.
A Septuaginta emprega com frequência
o termo anomía para traduzir a palavra hebraica ‘awôn, “iniquidade, perversão”
(Êx 34.7), além de mais de 20 termos alusivos ao pecado. ‘Awôn é sinônimo de
pecado: “Nós pecamos como os nossos pais; cometemos iniquidade, andamos
perversamente” (Sl 106.6).
Outro termo hebraico usado como “transgressão”
é pāsha‘: “Qual é a minha transgressão? Qual é o meu pecado, que tão
furiosamente me tens perseguido?” (Gn 31.36). Há ainda diversos termos para
designar o pecado, como impiedade: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus
sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça”
(Rm 1.18); maldade: “como apresentastes os vossos membros para servirem à
imundícia e à maldade para a maldade” (Rm 6.19); perversidade: “a vossa língua
pronuncia perversidade” (Is 59.3); engano: “Ó filho do diabo, cheio de todo o
engano” (At 13.10); sedução: “Seduziu-o com a multidão das suas palavras” (Pv
7.21); “a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera” (Mt
13.22); injustiça: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” 1 Jo 1.9) e
incredulidade: “porque o fiz ignorantemente, na incredulidade” (1 Tm 1.13); “E
vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (Hb 3.19).
O pecado não se originou no Éden; surgiu
primeiro na esfera angelical, quando o querubim ungido (Ez 28.12-15) se rebelou
contra Deus e dessa forma foi expulso do céu juntamente com os anjos rebeldes
(Is 14.12-14; Ap 12.7-9). Mas parece que muitos teólogos preferem pular essa parte.
De qualquer maneira, o que aconteceu no Éden foi outra queda. Adão e Eva foram
criados em total inocência e não conheciam o mal antes de desobedecerem a Deus
(Gn 3.5). Não havia nenhum tipo de malícia na sua natureza ou no ambiente onde
eles foram inseridos. Eles “não se envergonhavam” (Gn 2.25) e ainda não
conheciam o “bem e o mal” (Gn 3.5). Em suma, além de não conhecerem nenhum tipo
de culpa por nenhum tipo de pecado, também eram inocentes com relação ao
pecado. A ordem de Deus foi clara: “E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo:
De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e
do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” (Gn 2.16, 17). Aqui está claro que Deus dotou o ser humano de livre-arbítrio.
A serpente perguntou primeiro se o fruto
de todas as árvores do jardim estava liberado (Gn 3.1). Ao ouvir a resposta da
mulher, apresentou um discurso contrário do que Deus havia dito: “Então, a
serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia
em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o
bem e o mal” (Gn 3.4, 5). Com essas astúcias, a serpente levou a mulher a
desobedecer a Deus, pois despertou a curiosidade de Eva que chamou a sua
atenção para o fruto proibido: “E, vendo a mulher que aquela árvore era boa
para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento,
tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela”
(Gn 3.6). O pecado não é causado por Deus: “Ninguém, sendo tentado, diga: De
Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta”
(Tg 1.13). A tentação vem dos próprios desejos ilícitos (Tg 1.14, 15). “Porque
tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e
a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2.16). A tentação envolve,
além da indução externa, os desejos carnais pelas coisas proibidas. A serpente
seduziu Eva com três elementos. Adão e Eva tinham total capacidade de rejeitar
a proposta da serpente, pois Deus criou o ser humano com livre-arbítrio e
liberdade de escolher entre o bem e o mal (Gn 2.16, 17). A sutileza é uma
maneira refinada e sutil de mostrar algo de maneira disfarçada, quase imperceptível,
que exige agudeza de espírito para ser detectada. Essa é uma
das especialidades de Satanás e foi com sutileza que Satanás levou o primeiro
casal à ruína e, com ele, toda a humanidade (Rm5.12).
A morte de Adão quando desobedeceu a Deus
foi instantânea. Morte significa separação. Deus advertiu a Adão dizendo: “No
dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Foi o que aconteceu. A
comunhão com Deus foi interrompida imediatamente, pois seus olhos foram abertos
e eles logo perceberam que estavam nus, conheceram pessoalmente o mal e
procuraram se esconder da presença de Deus porque sentiram medo (Gn 3.7, 8,
10). O senso de culpa foi imediato. Eles morreram espiritualmente no mesmo
instante em que comeram o fruto proibido; era a ruptura da comunhão: “Porque o
salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).
A Queda do Éden arruinou a humanidade de maneira tão
profunda que transmitiu a todos os seres humanos a tendência ou inclinação para
o pecado. A depravação total do gênero humano não significa ser um pecador ao
extremo em último grau, totalmente insensível quanto à consciência no que diz
respeito ao certo e o errado (Rm 2.15). Todo o gênero humano se corrompeu, mas
a imagem de Deus no ser humano não foi perdida (Gn 9.6; Tg 3.9); ela ficou
desfigurada, e a restauração só é possível em Cristo (Ef 2.10). A depravação
total significa que nada há no ser humano que não tenha sido contaminado pelo
pecado, da cabeça à planta do pé (Is 1.5, 6); significa natureza mental e moral
corrupta (Gn 6.5, 12), coração enganoso e perverso (Jr 17.9), morto em ofensas
e pecados (Ef 2.1), inimigo de Deus (Rm 8.7), escravo do pecado (Rm 6.17; 7.5).
A Bíblia afirma categoricamente que “não há um justo sequer” (Rm 3.10); que
“todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Até um bebê recém-nascido (Sl 51.5), antes
mesmo de cometer o seu primeiro pecado, já é pecador (Sl 58.3). Por causa do
pecado de Adão, todas as pessoas recebem uma natureza corrompida e culpada aos
olhos de Deus.
Todos os seres humanos são pecadores: “Como está escrito: Não há
um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque
a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça
o bem, não há nem um só... Porque todos pecaram e destituídos estão da glória
de Deus” (Rm 3.1-12, 23). Já nascemos pecadores: “Eis que em iniquidade fui
formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5) e “Alienam-se os ímpios
desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras” (Sl
58.3). A queda do Éden trouxe a corrupção geral do gênero humano, a natureza
moral se corrompeu (Gn 6.5, 12). Essa corrupção afetou a pessoa na tua
totalidade, com todas as suas faculdades – a alma, o corpo e o espírito: “Toda
a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco. Desde a planta do pé até à
cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres, não
espremidas, nem ligadas, nem nenhuma delas amolecida com óleo” (Is 1.5, 6),
como disse o teólogo Millard J. Erickson: “Não somos pecadores apenas porque
pecamos; nós pecamos porque somos pecadores” (ERICKSON, 2015, p. 559).
O apóstolo Paulo apresenta uma breve amostra da
situação espiritual dos gentios (Rm 1.21-32), mas em seguida explica que a
situação dos judeus não é diferente da humanidade (Rm 1.17-23) e depois coloca
no mesmo bojo judeus e gentios: “Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma!
Pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo
do pecado” (Rm 3.9) e “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus” (Rm 3.23). A Bíblia mostra que “o pecado de Adão nos afetou muito mais
que a ele próprio” (HORTON, 1996, p. 269). Isso se baseia nas epístolas
paulinas (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21, 22). É a isso que chamamos pecado original.
Mas a declaração mais surpreendente é quando o apóstolo afirma: “Pelo que, como
por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). Essa
doutrina do pecado original não é inovação paulina; ela consta da tradição
judaica, no Talmude (Berakoth, 61a; Nedarim, 32b). O ensino paulino veio da
revelação de Jesus Cristo, das Escrituras do Antigo Testamento e da tradição
judaica. O apóstolo Paulo desenvolveu essa doutrina. A morte é universal e nisto está a
evidência incontestável da universalidade do pecado. Depois, o apóstolo mostra
que, da mesma maneira que o pecado de Adão contaminou toda a humanidade, assim
também a justiça de Cristo a graça veio para todas as pessoas: “Pois assim como
por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim
também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para
justificação de vida” (Rm 5.18).
Não existe uma teoria detalhada nas
Escrituras sobre o pecado original, mas os dados da revelação nos dão base para
uma dedução da Bíblia. O ser humano é concebido em pecado: “em iniquidade fui
formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5) e “Alienam-se os ímpios
desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras” (Sl
58.3). Isso mostra por que o apóstolo Paulo afirma: “Andávamos nos desejos da
nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como os outros também” (Ef 2.3). Por dedução, é
razoável que um ser humano corrompido produza filhos igualmente corrompidos:
“Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!” (Jó 14.4); “Não pode a
árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons” (Mt 7.18) e
“Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto” (Lc
6.43). Os bebês recém-nascidos e as crianças, apesar de nascerem com natureza
pecaminosa (Sl 58.3), ainda não conhecem experimentalmente o pecado. Elas não
são responsabilizadas por seus atos antes de terem condições morais e
intelectuais para discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado (Rm 9.11).
O sacrifício de Jesus proveu salvação a todas as pessoas, até mesmo às crianças
que falecerem na fase da inocência.
Muitas teorias foram apresentadas ao longo da
história na tentativa de explicar o processo de transmissão do pecado original.
As três principais são o pelagianismo, o calvinismo e o arminianismo. Essas
teorias apresentadas a seguir são gerais, pois em todas elas existem as
tendências radicais e moderadas e cujos detalhes não são discutidos aqui por
absoluta falta de espaço.
O pelagianismo é a mais antiga dessas
teorias. Pelágio foi um britânico (360-420), contemporâneo de Agostinho de
Hipona, que se transferiu para Roma e, depois em 409, seguiu com seu discípulo
Celéstio, para Cartago, no norte da África. Segundo Pelágio, o pecado de Adão
não foi transmitido a toda a humanidade, nem a morte física é resultado do
pecado de Adão. Na sua teoria, cada alma é criada imediatamente por Deus, no
nascimento de cada pessoa, portanto ela não pode vir ao mundo maculada pelo
pecado de Adão. O pecado de Adão diz respeito só a ele e não pode ser imputado
sobre o destino de sua posteridade. Pelágio enfatizava também a ideia do total
livre-arbítrio. Segundo ele, os seres humanos possuem a graça, capacidade de
optar livremente por Deus. Por se tratar de criaturas feitas à imagem de Deus,
as pessoas têm condições morais e espirituais de fazerem o bem e evitarem o
mal, salvando-se com suas próprias forças. Pelágio dizia ainda “que não existe
necessidade da graça para a salvação, pois ela pode ser alcançada por meio da
nossa livre-escolha, independente de auxílio externo” (GEISLER, vol. 2, 2010,
p. 122). Pelágio acreditava que o pecado de Adão era apenas um mal exemplo para
os seus descentes, assim como a morte de Jesus não passava do mais eminente
exemplo da vida cristã.
A princípio, a sua doutrina teve acolhida
popular e não era considerada herética porque parecia um assunto ético e não
teológico. A controvérsia não foi desencadeada com o próprio Pelágio, mas com
Celéstio. Agostinho foi o primeiro a constatar o perigo dessa doutrina
pelagiana. O bispo de Hipona via nisso uma doutrina de autorredenção disfarçada
e completamente contrária ao pensamento soteriológico e cristológico. Isso
porque, se as pessoas chegam à salvação se baseando simplesmente na sua
natureza criada e na decisão de sua livre vontade, significa que Jesus morreu
em vão.
O arminianismo ensina o
contrário do pelagianismo. Jacó Armínio foi um teólogo holandês de origem
reformada (1560-1609) que modificou consideravelmente a linha teológica em que
havia sido criado. João Wesley, teólogo e pregador britânico (1703-1791), fez
mudanças no pensamento arminiano. O pecado de Adão corrompeu a natureza humana
na sua totalidade, e iniciamos a vida sem nenhuma retidão. O ser humano é
incapaz de fazer a vontade de Deus e cumprir os seus mandamentos no tocante às
coisas espirituais de Deus. A imagem de Deus no ser humano não foi aniquilada,
mas desfigurada, por isso necessita da graça de Deus para superar isso em
direção a ele. Essa graça não é irresistível; ela opera de forma suficiente
“sobre todos, aguardando a sua livre-cooperação antes de se tornar
salvificamente efetiva” (GEISLER, vol. 2, 2010, p. 123).
O
calvinismo defende os cinco pontos aprovados no Sínodo de Dort em
1619-1620, cerca de 60 anos depois da morte de João Calvino, e muitos duvidam
de que ele aprovaria todos esses pontos. São eles: 1) depravação total, 2)
eleição incondicional, 3) expiação limitada, 4) graça irresistível e 5)
perseverança dos santos. Os arminianos concordam em parte com o primeiro ponto
e discordam dos demais. Ninguém é coagido a ser salvo, Jesus morreu por todos
os pecadores, o pecador pode resistir à graça e é possível o crente decair da
graça.
Adão é apresentado como figura de Cristo: “o
qual é a figura daquele que havia de vir” (Rm 5.14). Existe só um ponto em
comum entre Adão e Cristo, um é o cabeça da humanidade caída, representante da
morte; o outro, o cabeça da nova eternidade, representante da vida. Fora isso,
a comparação paulina é uma antítese que nos enche de gozo.
A morte expiatória de Jesus Cristo foi e é a solução para o pecado.
“Lendo o Antigo Testamento e considerando séria
e literalmente a sua mensagem, facilmente concluiremos que a salvação é um dos
temas dominantes, e Deus, o protagonista. O tema da salvação já aparece em
Gênesis 3.15, na promessa de que o Descendente — ou ‘semente’ — da mulher
esmagará a cabeça da serpente. ‘Este é o protoevangelium, o primeiro
vislumbre da salvação que virá através daquEle que restaurará o homem à vida’.
Javé salvava o seu povo através de juízes (Jz 2.16,18) e outros líderes, como
Samuel (1Sm 7.8) e Davi (1Sm 19.5). Javé livrou até mesmo a Síria, inimiga de
Israel, por meio de Naamã (2Rs 5.1). Não há salvador à parte do Senhor (Is
43.11)”. (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva
pentecostal. 1ª Edição. RJ: CPAD, 1996, p.97).
Jesus Cristo, “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”
CONCLUSÃO
A única esperança é o Senhor Jesus, o único que
pode nos restaurar a Deus. Restaurar é restituir, e isso se aplica tanto a
possessões e bens (Êx 22.14; Is 58.12; Lc 19.8) como também a pessoas (Jr
30.17). O plano de Deus é restaurar todas as coisas (At 3.21), mas Ele começou
com os seres humanos. Nós estávamos perdidos, como o filho pródigo, e fomos
restaurados a Deus pelo arrependimento (At 3.19; 2Co 7.10) e pela fé em Jesus
(Rm 5.1).
Fonte: Lições Bíblicas CPAD Adultos - 3º Trimestre de 2017 - Título: A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Livro de Apoio - Comentarista: Esequias Soares
Revista Adultos 3ºTrim.2017 - A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Comentarista: Esequias Soares
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