“Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens, como o lavar dos jarros e dos copos, e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas” Mc 7.8
6 — Maravilho-me de que tão depressa
passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho,
7 — o qual não é outro, mas há alguns que
vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.
8 — Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo
do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja
anátema.
9 — Assim como já vo-lo dissemos, agora de
novo também vo-lo digo: se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já
recebestes, seja anátema.
10 — Porque persuado eu agora a homens ou
a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens,
não seria servo de Cristo.
11 — Mas faço-vos saber, irmãos, que o
evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens,
12 — porque não o recebi, nem aprendi de
homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.
INTRODUÇÃO
Hoje, depois de dois mil anos, o conceito
original de Cristianismo foi sociologicamente perdido, pois tudo que se faz sob
o “símbolo da cruz”, chama-se de Cristianismo, não sendo feita nenhuma
depuração, mas no início não foi assim. Ser cristão significava viver como
Cristo e jamais o negar, ainda que para isso tivessem de morrer! Não se
contaminariam com a cultura do mundo. Eles sempre estavam juntos, vivendo
integralmente a contracultura do evangelho. Esse foi o segredo da Igreja
Primitiva: produziu uma revolução cultural, pois quando a pessoa é transformada
por Cristo, o mundo ao seu redor é mudado. O evangelicalismo deste tempo
pós-moderno precisa voltar ao Cristianismo puro e simples.
Muitas das crenças religiosas ditas evangélicas do nosso tempo não mais reproduzem a cosmovisão do Reino de Deus, por se conformarem com o sistema deste mundo.
1. Século I.
O crescimento vertiginoso do Cristianismo, no
Século I, trouxe a necessidade de se fazer alguns ajustes, para acomodar todas
as vertentes étnicas e culturais emergentes. Diante disso, os apóstolos se
reuniram em assembleia, na Cidade de Jerusalém, para resolver esse impasse, e
ali estabeleceram os comportamentos que deveriam ser praticados por todos (At
15.20-22).
As recomendações apostólicas eram um extrato de
amor, santidade e comunhão entre os cristãos do mundo, um ponto de convergência
comportamental. Os cristãos primitivos construíram a unidade sem negociar a
verdade, pois queriam seguir juntos, com uma cosmovisão sólida e coerente, para
que crescessem consistentemente, delineando a identidade cultural cristã. Eles
conciliaram o que era aparentemente inconciliável, porque o Espírito Santo
alinhou os entendimentos.
2. Séculos XX e XXI.
O Brasil experimentou, ao longo das últimas
décadas, um vertiginoso crescimento numérico da igreja evangélica. De acordo
com o IBGE, em 1980 algo em torno de 6,6% dos brasileiros eram evangélicos; em
1991, o percentual passou a 9,0%; no ano 2000, subiu para 15,4% da população e
no último censo, em 2010, o índice saltou para 22,2%, um aumento de cerca de 16
milhões de pessoas (de 26,2 milhões para 42,3 milhões). Talvez hoje os
evangélicos brasileiros já totalizem mais de 50 milhões de pessoas!
No Século I, a igreja cristã cumpriu a Grande
Comissão e a comissão cultural, levando o evangelho da salvação e transformando
a cultura do mundo antigo. Hoje, entretanto, não se visualiza a existência de
uma contracultura produzida uniformemente pelas igrejas evangélicas. Prova
disso é que, não obstante esse impressionante crescimento numérico, os índices
de criminalidade, prostituição infantil, trabalho escravo, corrupção, dentre
outras mazelas sociais, não têm diminuído. Numa análise matemática, o
crescimento evangélico não está fazendo diferença na cultura nacional. Algo,
então, precisa ser mudado, pois esse não é o efeito prático do Cristianismo
puro e simples.
3. Sincretismo evangélico.
Algumas crenças religiosas evangélicas
pós-modernas são eminentemente sincréticas, ou seja, misturadas com elementos
cultuais da sociedade, notadamente dos elementos cultuais místicos dos
católicos, espíritas, dos cultos afros e até das religiões indígenas. Uma
miscelânea de ideias e conceitos antagônicos, que buscam o resultado a qualquer
custo. Daí advém a realização de novenas, o uso do sal grosso, rosa ungida, a
deificação de líderes (cujo suor pode curar), a formulação de poções feitas com
dezenas de ingredientes “mágicos”, dentre inúmeras outras práticas, que indicam
que os “convertidos” permanecem prisioneiros do misticismo, embora tenham
alterado o rótulo religioso.
Com a chegada do Cristianismo verdadeiro há,
sempre, uma revolução cultural, pois quando uma pessoa é transformada por
Cristo, o mundo ao seu redor é mudado.
1. Pregação da cultura do mundo.
A pregação cristã deve se basear exclusivamente
nas Escrituras (Sola Scriptura), mas quando o sincretismo religioso surge,
elementos culturais e doutrinários são incorporados gerando apostasia. Exemplo
disso são pregações que ensinam e estimulam o amor ao dinheiro e às riquezas.
Isso caracteriza a igreja utilitarista, ou
seja, se os resultados numéricos (e financeiros) forem positivos, então o
método e a doutrinação podem (e devem) continuar.
Nessa esteira, muito tem proliferado a
famigerada teologia da prosperidade, a qual coloca os bens materiais em posição
de destaque na vida, estimulando a busca deles. Inclusive, é bom lembrar que
não foi Jesus quem disse: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”, mas
o próprio Diabo (Mt 4.9). Todo cuidado é pouco.
2. Humanismo secular.
Consequência indissociável do sincretismo de
certas crenças ditas evangélicas é o aparecimento do humanismo secular, — o
homem se torna o centro de todas as coisas.
O humanismo tira a primazia de Deus e faz o
homem assentar-se soberano; então, assim, a obra de Deus se transforma em
“ministério” desta ou daquela celebridade, o púlpito da congregação se
transforma em palco e o culto, em show. Como se não bastasse, são
outorgados títulos ufanistas aos líderes, tais como apóstolo, patriarca,
sumo-sacerdote, e até rei, dentre outros, de maneira a identificá-lo acima dos
demais líderes cristãos. Isso é humanismo secular e trata-se de uma apostasia à
fé cristã.
3. Uma longa história.
A história do sincretismo do fenômeno religioso
é bastante antiga. Quando Moisés demorou a descer do monte, os israelitas
fizeram um bezerro de ouro “egípcio” e disseram que aquele era o Senhor.
Jeroboão I, ao criar os altares em Dã e Betel, iguais ao de Damasco, convenceu
o povo que aqueles lugares seriam os substitutos do Templo em Jerusalém. As
consequências em ambos os casos foram terríveis.
Paulo, quando escreveu aos Gálatas
repreendeu-os severamente pelo sincretismo daquela igreja. Eles estavam
colocando as experiências religiosas acima das Escrituras. Então o apóstolo dos
gentios recomendou que não aceitassem outro evangelho, nem que fosse pregado
por um anjo (Gl 1.6-8). Qualquer “revelação” que contrariasse a “cosmovisão
judaico-cristã” deveria ser considerada uma maldição.
Paulo advertiu sobre o perigo do sincretismo
religioso, alertando que qualquer “revelação” que contrariasse o Evangelho
deveria ser considerada uma maldição
1. Tempos trabalhosos.
Uma vez consolidada a corrupção de uma prática
cristã, seja ela cultural, seja doutrinária, aos olhos do Senhor surge um
adultério espiritual, o que Deus não tolera. Abundantes são os casos, na
Bíblia, em que homens cometeram adultério espiritual e foram severamente
punidos. Podem-se citar os acontecimentos envolvendo Nadabe e Abiú, os filhos
de Eli, Uzá, Uzias, dentre outros.
Episódio igualmente impressionante foi o de
Ananias e Safira (At 5.1-7). Eles mentiram para o apóstolo Pedro, em um
ambiente de culto, o que ocasionou suas mortes imediatamente, porque não havia
apenas avareza, mas também um sentimento de zombaria, de desprezo pelas coisas
do Senhor, um adultério espiritual. Isso acendeu o zelo de Deus. O juízo foi
rápido, em cumprimento ao que está escrito: “Não erreis: Deus não se deixa
escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
2. Subcultura.
O sincretismo evangélico tende a produzir
apenas uma subcultura do mundo, e não uma contracultura do Reino, ou seja, as
pessoas passam a viver com particularidades culturais cristãs, sem,
todavia, desprenderem-se do modo de vida dominante no mundo. Há uma conformação
aos moldes sociais (Rm 12.2), uma aceitação tácita da cultura secular. Tal fato
pode ser observado em algumas crenças religiosas do tempo atual que, por
exemplo, não enxergam pecado na prática do sexo antes do casamento, aceitam a
realização do aborto e do casamento homossexual, admitem toda forma de
sensualidade e desejo da carne.
3. Cristianismo puro e simples.
O resultado prático de se viver o cristianismo
na sua forma original é o estabelecimento de uma contracultura capaz de
responder efetivamente a qualquer questionamento de ordem emocional, espiritual
ou social. Está escrito que os crentes primitivos “perseveravam na doutrina dos
apóstolos, e na comunhão [...] E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja
aqueles que se haviam de salvar” (At 2.42,47).
As denominações evangélicas não devem, em nome
da liberdade cristã, dar ocasião ao pecado, pois sem a santificação ninguém
verá o Senhor (Hb 12.14).
CONCLUSÃO
A revolução do Cristianismo continua em ação,
porém tem-se observado a ausência de identidade com Cristo de algumas crenças
religiosas “cristãs”, o que é dramático. Em qualquer tempo, o indivíduo que se
entregar ao Senhor, como fizeram os primeiros cristãos, experimentará algo
extraordinário, inigualável, e receberá uma nova vida em Cristo (2Co 5.17),
criando ao redor de si uma contracultura transformadora.
“O verdadeiro Cristo e a verdadeira fé bíblica
estão sendo rapidamente substituídos por alternativas doentias, oferecidas por
um grupo de mestres que pertencem ao denominado ‘Movimento da Fé’.
Este câncer vem sendo alimentado por uma
constante dieta que poderia ser chamada de ‘cristianismo das refeições rápidas’
— belas na aparência, mas fracas em substância. Os provedores dessa dieta
cancerígena têm utilizado o poder das ondas de rádio e televisão, bem como uma
pletora de livros e fitas criteriosa e agradavelmente embalados, a fim de
atrair suas presas para o jantar. E os desavisados têm sido chamados a amar não
o Mestre, mas aquele que está na mesa do Mestre.
Durante anos venho pregando sobre este assunto
com uma urgência dramática. Em adição, lembro-me das incontáveis horas passadas
com o Dr. Walter Martin (fundador do Instituto Cristão de Pesquisas — EUA),
antes de sua morte, discutindo tal catástrofe e suas implicações para a fé
cristã histórica.
Para evitar esta crise, precisamos mudar nossa
percepção de Deus como um meio para se chegar a um fim, reconhecendo que Ele é
um fim em si mesmo. Precisamos mudar duma teologia baseada em perspectivas
temporais para uma teologia alicerçada sobre verdades eternas” (HANEGRAAFF,
Hank. Cristianismo em Crise. 1ª Edição. RJ: CPAD, 1996, pp.14,15).
“O perigo é que a cultura popular cristã por
imitar os costumes da cultura dominante em estilo, mudando somente o conteúdo.
O mercado de música está transbordando com Rock, Rap, Blue, Jazz, Heavy Metal
cristãos. As prateleiras das livrarias estão cheias com ‘ficção cristã’, desde
histórias de aventuras infantis até romances quase picantes. Parque temáticos
cristãos oferecem uma alternativa à Disney e vídeos cristãos para crianças e
para pessoas que praticam exercícios são muito vendidos. Em alguns aspectos, esse
é um desenvolvimento saudável, mas temos sempre de perguntar: Estamos criando
uma genuína cultura cristã, ou estamos apenas criando uma cultura paralela com
aparência cristã? Estamos impondo um conteúdo cristão para uma forma já
existente? Pois a forma e o estilo sempre enviam uma mensagem própria.
Quando criamos uma cultura popular cristã,
temos que ter cuidado para não simplesmente inserir o conteúdo cristão em
qualquer estilo corrente no mercado. Ao invés disso, deveríamos cultivar alguma
coisa distintamente cristã tanto no conteúdo quanto na forma. Temos de aprender
a identificar as cosmovisões expressadas em várias formas para podermos
criticá-las e produzir uma alternativa que seja realmente bíblica” (COLSON,
Charles; PEARCEY, Nancy. E Agora, como Viveremos? 2ª Edição. RJ:
CPAD, 2000, pp.549,550).
Fonte: Lições Bíblicas 3º Trimestre de 2017 Título: Tempo para todas as coisas — Aproveitando as oportunidades que Deus nos dá - Comentarista: Reynaldo Odilo
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