RELIGIÃO
A palavra “religião” chegou à língua portuguesa
pelo latim. Veio de religare ou religere, cuja etimologia não
lança muita luz sobre o termo, no sentido em que se emprega hoje. Segundo
Richard A. Muller (1993), o termo latino religio significa: “Religião; religião
verdadeira é mais simplesmente definida por eruditos protestantes com a ideia
correta do conhecimento e da honra a Deus (recta Deum cognoscendi et colendi ratio),
envolvendo conhecimento de Deus (cognitio Dei), amor de Deus (amor Dei...) e temor de Deus (timor Dei),
dirigindo para a honra ou a veneração (cultus...) de Deus”.
Jerônimo usou o termo latino religio na Vulgata
Latina para traduzir a palavra grega threskéia, “religião, culto, piedade”, que
aparece quatro vezes no texto grego do Novo Testamento: “Conforme a mais severa
seita da nossa religião, vivi fariseu” (At 26.5); “com pretexto de humildade e
culto dos anjos” (Cl 2.18); “Se alguém entre vós cuida ser religioso e não
refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã. A
religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1.26, 27).
O termo threskéia se refere a uma expressão externa de
crença. É verdade que muitas vezes o cristão hesita em usar a palavra
“religião”, pois prefere substituí-la por “minha fé” ou pela “igreja à qual
pertenço”, em vez de “minha religião”. Isso acontece pelo fato de ser o
cristianismo diferente de todas as religiões do mundo! Está acima de todas,
principalmente porque o seu Fundador é vivo!
No Antigo Testamento usa-se com frequência a
palavra hebraica ‘avôdâ,
que significa “trabalho, serviço, serviço sagrado, culto religioso”; por
exemplo: “Ao SENHOR teu Deus temerás e a ele servirás” (Dt 6.13). A Septuaginta
traduziu esse termo por latreusis, também usado pelo Senhor Jesus na
tentação do deserto: “Ao SENHOR, teu Deus, adorarás e só a ele servirás” (Mt
4.10) ou “Ao SENHOR, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (ARA). O
substantivo latreia
significa “serviço sagrado, culto, adoração”.
A palavra dāt, que aparece no Antigo Testamento, é de origem
semítica e usada nas línguas aramaica e hebraica. A ideia em aramaico é de
“lei, ordem, decreto”. A lei, dāt, em aramaico, segundo Gesenius, tem o sentido
de sistema de religião: “Nunca encontraremos motivo para acusar Daniel, a não
ser que seja alguma coisa que tenha a ver com a religião dele” (Dn 6.5 – NTLH);
“e cuidará em mudar os tempos e a lei” (Dn 7.25) ou: “Procurará NTLH); “e
cuidará em mudar os tempos e a lei” (Dn 7.25) ou: “Procurará mudar a Lei de
Deus e os tempos das festas religiosas” (NTLH).10 Isto significa que o anticristo tentará
implantar uma nova religião. Gesenius afirma ainda que: “Os rabinos aplicaram
esta palavra ao cristianismo e ao islamismo” (GESENIUS, 1982, p. 211). Ainda
hoje em Israel, dāt
é a palavra usada para “religião”, a mesma empregada na versão hebraica do Novo
Testamento, em Atos 26.5. Mas o termo significa também “lei” em hebraico, como
aparece com frequência no livro de Ester (1.8, 13, 15, 19; 2.14; 3.8 etc.) ou
ainda “ordem, edito, decreto” (Ed 8.36).
Novo nascimento é regeneração, transformação de
vida pelo poder atuante do Espírito Santo na vida do pecador (Tt 3.5). Não se
trata simplesmente de mudança de hábito ou de pertencer a uma nova religião. A
ideia de que o propósito de Deus é levar as pessoas à religião é falsa.
Geralmente se ouve dizer que determinada pessoa precisa de religião. É até
compreensível, pois quem se expressa dessa maneira, às vezes, está querendo
dizer que tal pessoa precisa de Jesus. Mas há religiões que ensinam e acreditam
que basta ter uma religião e estará tubo bem diante de Deus. Mahatma Gandhi
dizia que não há necessidade de se converter a Cristo, basta ser bom religioso:
o cristão, bom cristão; o muçulmano, bom muçulmano; o hindu, bom hindu, e assim
por diante.
Há no islamismo a ideia de que Deus estabeleceu
ao longo da história três religiões: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Os muçulmanos acreditam que Deus enviou primeiro Moisés para estabelecer o
judaísmo, mas, dada a desobediência dos judeus, eles foram dispersos pelo mundo
todo e depois Deus enviou Jesus para estabelecer o cristianismo. Porém, no
século 5, o cristianismo corrompeu-se tanto que Deus enviou Maomé a fim de
estabelecer o islamismo, “sua revelação final”. Eles creem que o islamismo
inclui tanto o judaísmo como o cristianismo.
Essa ideia islâmica destoa completamente do
pensamento bíblico. O Senhor Jesus não veio ao mundo porque os judeus
desobedeceram a Deus, mas para salvar os pecadores: “Esta é uma palavra fiel e
digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15), e isso já havia sido
anunciado pelo próprio Deus desde a Queda do Éden: “E porei inimizade entre ti
e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu
lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Além disso, a Igreja veio para ficar: “e
sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” (Mt 16.18); “a esse glória na igreja, por Jesus
Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.21). A validade
da obra redentora realizada pelo Senhor Jesus é para sempre: “Portanto, pode
também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre
para interceder por eles” (Hb 7.25). O cristianismo, portanto, não precisa de
remendo.
Apesar da contribuição da religião na
construção de uma sociedade melhor na avaliação deles, ela em nada ajuda na
salvação ou na transformação de vida do pecador. Não basta ser bom religioso,
Gandhi estava equivocado. Nicodemos, Cornélio e Saulo de Tarso, entre tantos
outros, eram também bons religiosos; no entanto, Jesus disse que Nicodemos
precisava nascer de novo para ver o reino de Deus (Jo 3.1-5); Cornélio precisou
se converter a Cristo (At 10.1-6), e Saulo, com toda a sua sinceridade e
religiosidade (At 26.5; Gl 1.14), reconheceu depois de sua experiência com
Jesus no caminho de Damasco o seu estado de miséria espiritual: “a mim, que,
dantes, fui blasfemo, e perseguidor, e opressor; mas alcancei misericórdia,
porque o fiz ignorantemente, na incredulidade” (1 Tm 1.13), e conclui afirmando
ser o “principal dos pecadores” (1 Tm 1.15).
A vontade de Deus não tem nada que ver com
religião; o que Ele deseja é a comunhão com suas criaturas inteligentes. Quando
Adão pecou no Éden, ele e sua mulher por si mesmos procuraram se esconder do
Criador, mas a iniciativa de comunhão de uma relação que acabara de ser rompida
foi do próprio Deus (Gn 3.7-10). Quando Deus mandou Moisés construir o
tabernáculo, disse: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êx
25.8). Era o lugar santíssimo, também chamado de “santo dos santos” (1 Rs 6.16;
Hb 9.3), uma das dependências do tabernáculo, onde ficava a arca da aliança (Êx
26.33; Lv 16.2, 3). Nesse lugar santíssimo, Deus se revelava aos filhos de
Israel e falava ao povo, a princípio por meio de Moisés (Êx 25.22; Nm 7.89) e
depois falava com o povo por meio do sumo sacerdote (1 Rs 8.10, 11). A
importância do tabernáculo e posteriormente do templo não estava nos
sacrifícios, mas na presença de Deus. Tudo isso se consumou na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo ao mundo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e
vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade” (Jo 1.14). O restabelecimento da plena comunhão com Deus por Jesus
Cristo será no mundo vindouro: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens,
pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles
e será o seu Deus” (Ap 21.3).
A vontade de Deus não é que as pessoas se
tornem religiosas, mas a sua comunhão com elas. Essa comunhão com Deus é
restabelecida no novo nascimento: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é:
as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). É assim
que o pecador é transformado e regenerado pelo poder do Espírito Santo.
10
Algumas porções do Antigo Testamento foram escritas originalmente em aramaico,
sendo preservadas até hoje nessa língua. São elas: Jeremias 10.11 e duas
palavras em Gênesis 31.47, além de Esdras 4.8–6.18; 7.12-26 e Daniel 2.4–7.28.
A Bíblia ensina, e a experiência humana confirma, que todos os seres humanos estão mortos “em ofensas e pecados” (Ef 2.1). O ensino paulino sobre a universalidade do pecado veio diretamente do Senhor Jesus (Gl 1.11,12), e sua base está em muitas passagens do Antigo Testamento (Rm 3.10-12; Sl 51.5; 58.3).
“[Do hebraico. sub,
voltar atrás; do grego. metanoeo, voltar; e, do latin. conversionem,
transformação] Mudança que Deus opera na vida do que aceita Cristo como o seu
Salvador pessoal, modificando-lhe radicalmente a maneira de ser, pensar e agir.
A conversão é o lado objetivo e externo do novo nascimento. Por intermédio
dela, o pecador arrependido mostra ao mundo a obra que Cristo operou em seu interior:
a regeneração. Em suma: o novo nascimento tem dois lados: um subjetivo e outro
objetivo”. Dicionário Teológico, CPAD, p.115.
Regeneração
O termo significa
literalmente “gerar novamente” e só aparece duas vezes no Novo Testamento: a
primeira no sentido escatológico (Mt 19.28), ao se referir à restauração de
todas as coisas; e a outra como sinônimo de novo nascimento, cujo sentido é de
salvação em Cristo (Tt 3.5). Isso significa ser gerado da semente incorruptível
(1Pe 1.23). Os reencarnacionistas costumam usar essa passagem para fundamentar
a doutrina da reencarnação. Mas essa não é a questão aqui. Jesus deixou claro
ao príncipe dos judeus: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
Espírito é espírito” (v.6). Jesus não está falando em renascimento nem em
reencarnação; essas coisas nunca fizeram parte da tradição judaica.
“O novo nascimento no Evangelho de João
Encontramos a única menção explícita ao novo
nascimento na conversa de Jesus com Nicodemos (3.1-21). Jesus fala a Nicodemos:
‘Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver
o Reino de Deus’ (v.3). A réplica de Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer,
sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?’
(v.4), indica que ele entendeu o comentário de Jesus na esfera humana, física.
A interpretação errônea de Nicodemos fornece a Jesus a oportunidade de
esclarecer o que queria dizer. Ele fala da necessidade de um novo nascimento
espiritual, não de um segundo nascimento físico (vv.6-8). A interpretação
errônea e o esclarecimento resultante dela são refletidos em um jogo de
palavras no versículo 3 (repetidas no v.7). A palavra grega aõthen,
traduzida por ‘novo’, na NVI, pode querer dizer ‘de novo’ ou ‘de cima’.
Contudo, o fato de Nicodemos entendê-la com o sentido de ‘de novo’ leva-o a
concluir que Jesus fala de um segundo nascimento físico, mas a resposta de
Jesus, registrada nos versículos 6-8, mostra que Ele se refere à necessidade de
um nascimento espiritual, um nascimento ‘de cima’. Esse novo nascimento não é
resultado de nenhum ato humano (cf. v.6), é obra do Espírito Santo (v.8). É
necessária a atividade sobrenatural do Espírito de Deus para realizar esse novo
nascimento espiritual no indivíduo. Ele não consiste apenas em percepção ou
compreensão mais excelente, mas na completa transformação do indivíduo (cf. 2Co
5.17)” (ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ,
CPAD, 2008, pp.245-6).
Quem era Nicodemos?
Muito pouco se sabe a
respeito dele. Seu nome é grego e significa “vencedor do povo”. Era fariseu, um
príncipe do povo (Jo 3.1) e membro do sinédrio (Jo 7.50). Nicodemos viu em
Jesus algo que não existe em nenhum dos seres humanos, mas ainda assim parece
que não queria ser visto pelo povo conversando com o Mestre. Talvez isso
justifique o fato de ter ido à noite se encontrar com o Senhor (v.2). Nicodemos
nunca mais foi o mesmo depois desse encontro com Jesus (Jo 7.51; 19.39). Esse
diálogo impressiona as pessoas ainda hoje, pois nele está o que consideramos
ser o texto áureo da Bíblia (Jo 3.16).
Fariseus
Representavam
o povo e, apesar de serem minoria na sociedade pré-cristã, exerciam forte
influência na comunidade judaica. Eram membros do sinédrio e tornaram-se
inimigos implacáveis de Jesus. Esse grupo formava uma seita (At 15.5). O
apóstolo Paulo declara que o grupo dos fariseus, ao qual Nicodemos pertencia
antes de sua conversão, era a mais severa seita do judaísmo (At 26.5; Gl 1.14;
Fp 3.5). Os Evangelhos estão repletos de provas do comportamento negativo dos
fariseus e de suas hipocrisias. Tanto que a palavra “fariseu” tornou-se
sinônimo de hipócrita e fingido, até os dias de hoje. Felizmente, Nicodemos era
diferente deles (Jo 7.50,51).
Saulo de Tarso
Ninguém no mundo nasce cristão; todos os seres
humanos nascem pecadores (Rm 3.23; 5.12). A salvação é individual e pessoal.
Por isso, até mesmo aquele que nasceu num lar cristão, apesar do privilégio de ter
sido criado num ambiente cristão e de ter recebido uma valiosa herança
espiritual dos pais, precisa receber a Jesus como Salvador pessoal para se
tornar filho de Deus (Jo 1.12). Ninguém é salvo simplesmente por pertencer a
uma religião ou seguir a tradição de seus antepassados. Saulo de Tarso é um bom
exemplo, pois ele mesmo declara ser extremamente religioso; e não um religioso
qualquer, mas um praticante inveterado do judaísmo (At 26.5; Gl 1.14; Fp 3.5).
Depois de sua experiência com Jesus, ele se considerou o principal entre os
pecadores (1Tm 1.15) e descreveu o seu estado de miséria diante de Deus
igualando-se aos demais pecadores: “insensatos, desobedientes, extraviados,
servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos,
odiando-nos uns aos outros” (Tt 3.3).
O centurião Cornélio
Não existe salvação sem Jesus (Jo 14.6).
Nicodemos e Paulo eram israelitas e professavam a religião dos seus
antepassados, Abraão, Isaque, Jacó, Samuel, Davi e outros patriarcas, reis e profetas
do Antigo Testamento. Mas Cornélio era romano e, mesmo assim, talvez por
influência da religião judaica, era “piedoso e temente a Deus, com toda a sua
casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus” (At
10.2). Observe que essas atitudes de Cornélio tinham a aprovação divina (At
10.4). Mas ninguém é salvo pelas obras (Gl 2.16). Por isso o apóstolo Pedro foi
enviado para falar a Cornélio sobre a salvação em Cristo. A descrição bíblica
da conduta de Cornélio se repete ao longo da história humana nas mais diversas
culturas e civilizações. A conversão envolve fé, arrependimento e regeneração.
A salvação é um dom de Deus mediante a fé em Jesus (Ef 2.8,9).
CONCLUSÃO
Há ainda hoje muitas pessoas religiosas e
sinceras como Cornélio e pessoas bem-intencionadas como Nicodemos, mas elas
precisam nascer de novo, da água e do Espírito para herdarem o Reino de Deus. É
nossa tarefa como cristãos e comunicadores do evangelho falar sobre a
necessidade do novo nascimento não somente ao pecador contumaz, mas também aos
muitos “Nicodemos” e “Cornélios” que estão à nossa volta.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD Adultos - 3º Trimestre de 2017 - Título: A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Livro de Apoio - Comentarista: Esequias Soares
Revista Adultos 3ºTrim.2017 - A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Comentarista: Esequias Soares
Leia também:
Aqui eu Aprendi!
Muito completo e profundo o tema desse estudo e foi elaborado com bastante embasamento bíblico. De fato, ao longo da vida, conhecemos alguns "Cornélio", "Nicodemos", e até nos comovemos com a seriedade e beleza com que fazem suas boas obras, mas Deus criou os princípios que devemos seguir e único caminho para salvação é aceitarmos Cristo como Senhor e Salvador, porque só as boas obras, só boas intenções, não são suficientes. Nós somos os responsáveis de propagar esse evangelho da cruz que muitos tem trocado por mensagens suaves que atraem pessoas, mas não geram o convite ao arrependimento genuíno e o nascer de novo. Muito bom, pastor Ismael! Parabéns pelo belo trabalho, que Deus continue lhe usando. Paz, Deyse LS Patoleia
ResponderExcluirOh Glória! Paz do Senhor irmã Deyse L.S.Patoleia. Sempre uma enorme alegria contar com sua participação. Que possamos, a cada dia, aprendermos mais e mais com o nosso SENHOR.
Excluirabraço fraterno